terça-feira, novembro 24, 2009

ILHA DO MEL

DSC_0171

To tostado. To feito um camarão frito. Me internei numa ilha por 3 dias. Foi o suficiente pra arrancar meu couro e me deixar numa ardência fila da puta. Ficaria mais, mesmo assim. Foda-se. Depois passa.

Ah, e conheci Bob.

Sempre desejei ficar peregrinando com uma mochila nas costas por ai. Acho que só me faltou algum tipo de talento pra tal proeza, porque a mochila até tenho.

Conheci Bob lá na ilha. Um sujeito estranho duns 40 anos. Magro. Com todos os dentes da frente da boca podres, careca e cheio de tatuagens. Pra papear com o cara tinha que manter uma boa distância. Virou brother. Ele me contou que era a primeira vez que viajava sem sua garota depois de alguns anos. Tava sentindo a mó falta. Apesar de estranho, o cara falava bem. “A liberdade é impagável, mas a sensação de saber que tem alguém em algum lugar preocupado com a gente também não tem preço.” Bonito. Até refleti nessas boboseiras do cara.

Minhas costas parecia uma chapa de padaria, pronta pro próximo omelete. Não tinha ninguém pra se preocupar com ela. Minhas costas... Eu tava quase morrendo de ensolação, mas nem fodendo ia pedir pro Bob passar qualquer tipo de hidratante, ou soro nela. Pau no cu.

O cara tinha um papo muito cônscio, eu já tava ficando loucão ouvindo aquilo. Vez ou outra eu tinha que desbaratinar e ficar sentado na frente do mar olhando praquele imenso horizonte tentando encontrar o fim. Sempre tinha a carcaça de um navio cargueiro pra atrapalhar meu momento “limpa cachola”. Era numa dessas que o azarão do sol me pegava. Nem notava. Na verdade não tinha sol. Era mormaço e to até agora tentando entender porque esse troço tosta tanto a gente.

Um dia acordei cedo e enterrei um ovo pra ver se cozinhava. No fim da tarde fui desenterrá-lo e pra minha surpresa tinha um pintinho em formação, morto lá dentro. Fedia pra caramba. Ovo choco. Vomitei. Certeza que a terra e nem o mormaço tinham feito isso. Já devia te-lo enterrado assim. Me comoveu, mas atirei-o ao mar. Tinha uma porrada de urubus pronto pra devora-lo por ali. Vi vários Mergulhões procurando sua caça. Os vi em ação, o que é mais legal. Eles dão rasantes a noventa graus sobre as ondas. Só não sei como enxergam peixes de uma altura como aquela na água revolta.

No meu último dia, notei que Bob tava triste. Ele ia ficar mais uma semana, me parece. Tava num esquema totalmente selvagem. Sem nenhum veículo de comunicação à sua disposição. Não tinha notícias da sua garota e isso o torturava. Ele foi prali porque tava afim de ficar só mesmo. Deviam ter se desentendidos, mas disse que não via a hora de voltar pra reencontrá-la. Ela tava em Buenos Aires naquele momento, se aventurando sem dinheiro nenhum com algum amante.

Pelo menos na ilha ele perdia a noção do tempo. O cara dizia que sentia saudade de umas bobeirinhas e tinha medo de ficar me dizendo e parecer muito romântico. Achava isso engraçado. Eu disse que tava com saudade do cheiro da minha garota também. Do sorriso, do abraço, do beijo e dela brava comigo, quando eu peido perto. Ele me chamou de cuzão e esboçou um abraço, mas terminou apenas com um aperto de mão. É o suficiente. Me despedi assim do sujeito esquisito.

No caminho de volta pra Sampa fiquei contando nos dedos, os minutos e os quilômetros. Estava cada vez mais próximo dela. Triste pela despedida, pela partida, pela realidade, pelo trânsito maldito, mas feliz por saber que havia alguém me esperando. Eu acho. Ainda não cheguei pra descobrir. O que posso afirmar é que Bob é um sujeito bem bacana. E que se ele tava procurando a Felicidade por lá, que a encontre.

Eu vi de perto o Sr. Hilário na ilha. Felicidade não devia estar tão longe. Hilário tava saindo do forró risca faca de madrugada e brincando de esconde-esconde com os seus netos. Mal andava o velhinho, mas queria agradar a molecada pentelha. Realmente hilário. As véias ficavam gritando o nome dele. Não tinha como não rir. Nem sei se ele conseguiu sair do mato depois. Temo que tenha ficado perdido. Tava tudo muito escuro. Desejo-lhe mais alguns anos de vida pra divertir a molecada e pra eu poder encontrá-lo algumas outras vezes quando estiver difícil de rir. Enfim. Conto mais outro dia.

5 comentários:

Camilo Irineu Quartarollo disse...

Foi mesmo. Quê aventura, heim!E muito bem contada. Está ficando nostálgico como eu, heim...rsrsrs.

Pedro Pellegrino disse...

Da hora, Pankada! Grande abraço.

PANKADA disse...

Fala Camilo. Este mal da nostalgia pega. Abraço

PANKADA disse...

Sumiu Pedro. Saudade de tu meu velho. Abraço

André Auke disse...

Isso dá uma conto interessante, de dois homens sozinho em uma praia deserta em busca de si, mas conversando sobre lembranças de um parte que já fez parte deles, rs.

abraços