terça-feira, abril 26, 2011

ESPERA

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No fundo você espera que o telefone toque, que batam à sua porta, ou apertem a sua campanhia. No fundo a gente sempre espera alguém, inventa coisas e cria histórias. E quando olhamos pela janela e não encontramos nada... no outro dia, ficamos com medo de abri-la novamente, porque entra um vento gelado carregado de lastimosas lembranças e o inverno chega com seu forte clima nostálgico.

E lá no fundo, bem no fundo a gente fica torcendo por um boa noite dela, pra depois nos deitarmos numa cama fria sob quentes cobertores e esperar que o sono chegue logo com os sonhos. Talvez a única esperança.

Mas no fundo mesmo queríamos estar tomando chocolate quente na frente de uma boa fogueira, com a cabeça no colo de nossas mães, ouvindo teus contos enquanto procuramos um final para os nossos. E todos os dias a gente corre olhar debaixo da porta esperando chegar alguma carta. Até mesmo uma carta vazia, só o envelope se possível, com o nosso endereço escrito com letras de mão. E no fundo, no fundo... (um breve silêncio)... são tantas coisas que prefiro mesmo me calar... até o dia em que a vida realmente... (deixa pra lá, apertem o reset e tudo se inicia do zero). Eu não sei, mas no fundo, no fundo... acho que gostaria de saber... merda nenhuma.

sábado, abril 16, 2011

MAIS UMA VEZ HORÁRIO NOBRE

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Camilo mandou mais um belo texto sobre a peça. E hoje é a última apresentação do mês lá no espaço e depois a peça segue em algumas viagens. Não percam. Às 20h, no Ponto de Cultura Garapa, na rua D. Pedro II, 1313, atrás do terminal central. Os ingressos são limitados. Então façam sua reserva pelo telefone (19) 3377 2001

Teatro de Plínio?

(sobre a peça Horário Nobre)

Plínio Marcos era um dramaturgo da era obscura da política brasileira, dos tempos que sabiamente saíram das datas comemorativas de 31 de março, posta na tal para evitar o golpe do riso de primeiro de abril de 1964, em que as “otoridades” de então lançaram o país no atraso. Numa época de censura em que era proibido se reunir, debater, (nessa época até reuniões políticas se faziam às escondidas ou em alguma comunidade eclesial) o seu teatro era a forma de mostrar o reflexo nefasto na vida das pessoas, como na “Quando as máquinas param”. Forte crítica social ao desemprego e seus reflexos na vida da família – após a peça, o debate, mesmo em casa, era inevitável. As pessoas se defrontavam com problemas reais e de sobrevivência. Como o governo da época se dava ao luxo da violência, o teatro de Plínio era mais uma amostragem doméstica, uma valvulazinha neurótica.

Horário Nobre surge neste ano de 2011, com um viés semelhante – chocar e provocar a reflexão. Peça muito bem escrita, montada e dirigida por Paulo Faria e encenada por Charles Mariano e Bruno Agulhari. Passa toda ela num quarto de pensão de terceira categoria, num lugar horrível de nosso inconsciente – em algum lugar do presente com algum analfabeto ou alfabetizado desempregado; a falta de higiene e bem-estar, as discussões de Zé com Rato sobre uma televisão que este roubou ou comprou com o dinheiro da dispensa do trabalho dão o tom de uma realidade imediata de Rato, a TV; e a visão sonhadora de Zé, melhorar de vida.

Onde está a nobreza de suas vidas, o título Horário Nobre foca o horário esnobe de algumas novelas em que o cenário montado é imitação de casas luxuosas da classe rica e o glamour de suas vidas, em que os problemas domésticos é de alguém que entra em depressão porque quebrou a unha ou o namorado morreu ao decolar de seu aviãozinho particular, ou uma doença que parece que só ataca ricos como câncer, ou um caso de algum jovem que está assumindo a homossexualidade (agora virou moda e é até chique novelas defenderem algumas bandeiras, dá mais audiência), é a vida de pessoas de sucesso e seus problemas, mas o povo quer ver e sonhar, talvez até imitar ou saber que pode repetir no seu mundo – também querem ser pessoas de sucessos, ter avião particular, lindas esposas, carrões e esses probleminhas para chorar essas lágrimas solidárias.

Rato, vai montando seu quebra-cabeças e desmontando a qualquer momento de sua demência obcessiva, este pode num momento fazer um gesto de amor e noutro matar o amado, mas na TV está o acesso ao mundo, às mulheres bonitas, aos carrões, à vida “real” da sociedade (pensa).

Bem, se você não quer perder a novela, não assista ao Horário Nobre de Paulo Faria; todavia, o que vai passar hoje? A dúvida atormenta, mas a Vida não é a simples lógica e no bar da esquina ou na igreja da matriz tudo pode acontecer, até aquilo que não acontece e o Nada deixa dá um tempo para pensar. Se fecharmos a mente como o Zé vamos viver alienados, se sonharmos como o Rato, podemos estar mortos num momento qualquer. E se... desculpe-me, se não queria ler este texto, paciência, já leu...

Camilo Irineu Quartarollo

terça-feira, abril 05, 2011

Eu, a Land Rover e, você? Na Africa do Sul

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Ok baby! Eu sei que chove forte lá fora. Eu não tenho carro pra te levar pra um passeio nesse domingo entediante, mas tenho uma mountain bike em ótimo estado que ganhei de um amigo “velho”. Tenho dois pares de patins rollers e podemos patinar quando o sol sair. Por favor, baby não ria se eu cair, pois estarei tentando te impressionar com alguns giros que vi numa revista sobre o assunto. Não me importo se eu me machucar. O que eu quero mesmo é te agradar. Porra, rimou, mas juro que não foi de propósito.

Ei baby. Você tem sua bike? A gente pode ir de um lugar pro outro com ela. Eu e você. Debaixo da chuva, com nossos walkmans no máximo volume. E se você não tiver, eu arrumo uma da minha irmãzinha. É uma Ceci rosa, bem clichê e ela sempre carrega flores no cesto. Mais clichê ainda. Mas foda-se. A gente nem vai lembrar disto quando estivermos sobre elas em alguma estrada a oeste do país.

Não, eu não quero uma carona. Essa longa caminhada faz parte da minha rotina diária de treinos. Tomei muito sorvete de flocos nas férias. Agora preciso emagrecer. Minha barriga ta fora do calção.

Olha, vou ligar o rádio aqui e deixar uma canção tocar. Pode ser aquela? Aquela que você tanto gosta? “Don´t Cry Baby” de Madeleine Peyroux. To tentando deixar fluir essas palavras da mesma maneira que ela canta essa bela música, mas não tenho talento com as letras e muito menos com a melodia. Mas é bonita e sempre lembro de nós dois.

Ah, você nunca mais me ligou. Eu chorei várias vezes. Como é que ta ai? Sabe no que ando pensando? Isso mesmo. Eu sabia que você saberia.

Eu queria saber compor boas canções de amor. Mas eu não sei. E também não me sinto um fracasso por isso. Não fico nem triste. Quero ser como todo mundo que declama poemas melados pras suas garotas bundudas. Mas tocaria todos os dias, se eu soubesse, muitas canções no antigo violão.

Ok baby! Vamos dar uma trégua. Ando ouvindo muito blues Mississipi e por isso te chamo assim. Não tenho uma Land Rover, mas vou te levar pra selva. Não tenho nenhum teco-teco, mas vamos chegar ao céu, passear por Machu Pichu, Honolu e nadar com tubarões brancos no Caribe. Ahhhh baby. O que mais poderia dizer pra te fazer sorrir? O que mais tem debaixo dos panos? Por que não olha pra mim? Fiquei feliz em te reencontrar. E agora to bem. Sempre quis escrever algo assim. Sei que é uma merda, mas sempre quis. Pelo menos agora vou dormir bem!