sábado, abril 16, 2011

MAIS UMA VEZ HORÁRIO NOBRE

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Camilo mandou mais um belo texto sobre a peça. E hoje é a última apresentação do mês lá no espaço e depois a peça segue em algumas viagens. Não percam. Às 20h, no Ponto de Cultura Garapa, na rua D. Pedro II, 1313, atrás do terminal central. Os ingressos são limitados. Então façam sua reserva pelo telefone (19) 3377 2001

Teatro de Plínio?

(sobre a peça Horário Nobre)

Plínio Marcos era um dramaturgo da era obscura da política brasileira, dos tempos que sabiamente saíram das datas comemorativas de 31 de março, posta na tal para evitar o golpe do riso de primeiro de abril de 1964, em que as “otoridades” de então lançaram o país no atraso. Numa época de censura em que era proibido se reunir, debater, (nessa época até reuniões políticas se faziam às escondidas ou em alguma comunidade eclesial) o seu teatro era a forma de mostrar o reflexo nefasto na vida das pessoas, como na “Quando as máquinas param”. Forte crítica social ao desemprego e seus reflexos na vida da família – após a peça, o debate, mesmo em casa, era inevitável. As pessoas se defrontavam com problemas reais e de sobrevivência. Como o governo da época se dava ao luxo da violência, o teatro de Plínio era mais uma amostragem doméstica, uma valvulazinha neurótica.

Horário Nobre surge neste ano de 2011, com um viés semelhante – chocar e provocar a reflexão. Peça muito bem escrita, montada e dirigida por Paulo Faria e encenada por Charles Mariano e Bruno Agulhari. Passa toda ela num quarto de pensão de terceira categoria, num lugar horrível de nosso inconsciente – em algum lugar do presente com algum analfabeto ou alfabetizado desempregado; a falta de higiene e bem-estar, as discussões de Zé com Rato sobre uma televisão que este roubou ou comprou com o dinheiro da dispensa do trabalho dão o tom de uma realidade imediata de Rato, a TV; e a visão sonhadora de Zé, melhorar de vida.

Onde está a nobreza de suas vidas, o título Horário Nobre foca o horário esnobe de algumas novelas em que o cenário montado é imitação de casas luxuosas da classe rica e o glamour de suas vidas, em que os problemas domésticos é de alguém que entra em depressão porque quebrou a unha ou o namorado morreu ao decolar de seu aviãozinho particular, ou uma doença que parece que só ataca ricos como câncer, ou um caso de algum jovem que está assumindo a homossexualidade (agora virou moda e é até chique novelas defenderem algumas bandeiras, dá mais audiência), é a vida de pessoas de sucesso e seus problemas, mas o povo quer ver e sonhar, talvez até imitar ou saber que pode repetir no seu mundo – também querem ser pessoas de sucessos, ter avião particular, lindas esposas, carrões e esses probleminhas para chorar essas lágrimas solidárias.

Rato, vai montando seu quebra-cabeças e desmontando a qualquer momento de sua demência obcessiva, este pode num momento fazer um gesto de amor e noutro matar o amado, mas na TV está o acesso ao mundo, às mulheres bonitas, aos carrões, à vida “real” da sociedade (pensa).

Bem, se você não quer perder a novela, não assista ao Horário Nobre de Paulo Faria; todavia, o que vai passar hoje? A dúvida atormenta, mas a Vida não é a simples lógica e no bar da esquina ou na igreja da matriz tudo pode acontecer, até aquilo que não acontece e o Nada deixa dá um tempo para pensar. Se fecharmos a mente como o Zé vamos viver alienados, se sonharmos como o Rato, podemos estar mortos num momento qualquer. E se... desculpe-me, se não queria ler este texto, paciência, já leu...

Camilo Irineu Quartarollo

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