terça-feira, março 30, 2010
quarta-feira, março 24, 2010
VAZIO DANADO
Em toda grande praça sempre tem uma senhora com suas tralhas que cuida dos pombos. Em cima do viaduto sempre tem alguém pronto pra saltar. Uns mais discretos e outros totalmente indiscretos. Os grandes amigos moram bem longe e têm a agenda lotada. Tem algo mais inconstante que a felicidade? É claro que tem, mas por hora, não consigo pensar em nada. Escrevo sempre pra tentar tampar um grande vazio que aparece de vez em quando. Escrevo porque gosto, mesmo quando não tenho o que dizer, como agora por exemplo.
E a vida como um sopro vai passando e nunca quer saber de voltar atrás. Esta nossa chance é única? E agora debaixo do viaduto muitos dormem embriagados pra se aquecerem do frio. Outros ainda tentam uns trocados e o máximo que conseguem é uma... ah, sei lá. Catarrada?
E a senhora com a tralha continua tentando se comunicar com os pombos. Alguém tem que cuidar deles, ela pensa. E quem cuida dela, penso eu. A esta altura já perdeu toda a esperança de ser entendida. Se é que ainda pensa sobre. Ela deve pensar que deveria se mudar pra Júpiter ou Marte.
E não é que escrever afasta o vazio da gente, pelo menos até o próximo dia, porque agora já são mais de meia-noite e daqui a pouco vou dormir. Nem terei tempo de chorar. O outro dia é... uma outra história. Você sabe o que é passar dos 30 anos, depois de já ter feito uma porrada de coisas na vida e o máximo que você consegue é levar tua garota pra comer no Habib´s? Ou no carrinho de hot dog da eqüina? É... pensando bem, pode até ser um luxo, pensando bem... tem um vazio danado pensando ainda se vai ou se fica. Eu vou, ele que se exploda.
sexta-feira, março 19, 2010
MISSÃO SECRETA
“Tenho esse texto guardado há muito tempo e só agora, como não tenho nada a perder mesmo, resolvi publicá-lo.”
Eu fui mandado uma vez pra uma missão no fundo do mar. Foi louco. Até onde sei, esta tentativa foi feita só uma vez e não sei se por sorte ou azar eu fui um dos cobaias. Nunca comentei com ninguém, mas passei 3 anos servindo na marinha. Tinha que ser segredo de estado, sigilo absoluto, mas a esta altura do campeonato to cagando. Prendam-me se quiserem.
Há algum tempo atrás fiquei sabendo do projeto de uma cidade submarina. Todo mundo achou surreal e absurdo. Só alguns servidores da Marinha sabiam disto. Nunca foi divulgado em lugar nenhum. Lá todo mundo ficou instigado com o negócio, mas por parecer uma idéia um pouco fantástica, poucos acreditaram que poderia dar certo e como sempre acho que nunca tenho nada a perder, me inscrevi pra ver no que dava. Os inscritos iam ter que passar por um monte de exames, preparação, provas etc e nesta época estava tendo um dos maiores concursos para promoção a major da marinha e quem estivesse neste projeto não poderia se dedicar ao concurso. Tive que optar. Deixei pra trás um salário absurdo pra me aventurar. Mais uma vez.
Poucos se inscreveram no projeto e depois de muito sofrimento e tudo mais, 5 sargentos foram escolhidos para viver na cidade submarina durante 3 meses, no mínimo, sem sair de lá. Claro, já estávamos bem preparados, mas na prática, com certeza, como sempre seria outra história. Risco de afogamento era o menor, pois tínhamos todos os equipamentos necessários para não ocorrer isto.
A pequena cidade foi construída dentro de uma caverna submersa, no oceano Pacífico há quase 3 mil pés de profundidade, praticamente no meio dos dois continentes. Foram anos. Eles conseguiram bloquear uma das saídas da caverna com uma redoma de vidro e passaram 15 anos tentando tirar toda água de dentro da redoma e depois construíram um pequeno prédio e algumas casas.
Eu sei que tudo isso foi feito por máquinas e controlado por computadores aqui de fora. O serviço humano era só deixar o material de construção lá embaixo.
Não sei descrever exatamente todo o processo de engenharia. Só sei que ficou muito bom. A idéia era habitar aquilo depois dos testes. Tinha de tudo. Tudo o que imaginarem. Sensacional. Como um pequeno bairro de São Paulo, ou melhor, uns quatro quarteirões como os daqui de onde moro. Aqui, por exemplo, num raio inferior a 100 m, tenho supermercado, drogarias, mc Donald´s, uma infinidade de restaurantes, botecos, academia, todos os bancos possíveis, posto de gasolina, conveniência, casas bahia, marabras, americanas etc, onde costumo torrar toda a minha grana comprando DVD´s.
Voltando. De início foi até curioso e por isso agüentamos 20 dias sem reclamar, mas depois o tédio começou a tomar conta do nosso animo. Não tinha muito o que fazer e estávamos enjoados um do outro também, então cada um começou a se virar com pôde pra fazer o tempo passar.
Como sempre gostei da vida oceânica, comecei a pesquisar mais sobre, aproveitando já estar lá e em pouco tempo eu tava dominando tudo.
Vivíamos rodeados de golfinhos. E o mais louco. Depois de um tempo eu já conseguia nadar sem equipamento nenhum. Percebi que fui adquirindo uns dotes aquáticos. Um processo de osmose. Tipo o Aquamen. Fiquei bem amigo de uns golfinhos e acabei adotando vários de estimação. São extremamente dóceis e gostam muito dos humanos. Fiz vários amigos debaixo da água. Dos mais variados tipos de peixes, algumas arraias, tartarugas etc.
Nadava ali por baixo sob a lua e sob o sol, não tinha nem medo de me perder. Só usava equipamentos quando sabia que ia ficar mais de 10 horas fora da caverna.
Bom, quis explicar tudo isto, pra contar que uma das maiores aventuras e a mais perigosa da minha vida passei nesta época. Carrego traumas e cicatrizes até hoje. Sai de madrugada com uns golfinhos. Havia um lugar que ainda não havia explorado. Nada demais. Voltamos já com o sol ardendo e no meio do caminho um tubarão martelo de mais ou menos 3, 50 m veio em nossa direção. Muito grande. Não da pra explicar.
Um dos golfinhos entrou na frente pra tentar me proteger, mas o tubarão era muito mais forte e acabou assassinando-o. Muito sangue e quase não se via um palmo a frente. Os outros golfinhos rapidamente foram tentar ajudar, mas foram mortos. O tubarão enlouquecido e ensangüentado veio na minha direção. Pensei que estaria ferrado. Não tinha muito o que fazer a não ser rezar e tentar reagir. Do jeito que ele veio eu me esquivei para direita, dando lhe um golpe clássico de caratê, seguido de um “ia”, deixando-o já quase sem todos os dentes. Só assim me senti um pouco mais seguro. Ele ficou me olhando, não sabia se atacava ou não. Como eu tava me sentindo um pouco mais confiante, resolvei atacar. Sempre aprendi assim. Atacar pra sair na vantagem.
Na seqüência dei um mortal triplo, seguido de um giro carpado. Ops! Calma lá. Não se espantem. Na água que bem mais fácil dar esses saltos. Não quero passar por mentiroso. Bom, só sei que cai por cima aplicando um mata-leão (tubarão). Vi os olhos deles se esbugalharem. Ele tentou rodopiar pra todos os lados, se debatendo, mas eu agarrei-o com tanta força, pois sabia que se ele me jogasse eu estaria morto. Foi muito tempo ali. Sorte que uns dois golfinhos sobreviventes perceberam rápido que eu não ia dar conta sozinho e começaram a ajudar-me. Começaram a fazer aquele barulho ensurdecedor deles e vários apareceram do nada. Foram pra cima do tubarão batendo forte no seu estômago. Foram tantas cacetadas que conseguimos acalmá-lo antes do previsto. O último deu uma porrada muito forte na cabeça e ele ficou meio grogue. Eu segurei pelo rabo, cauda, sei lá, e girei, girei, girei, com tanta força que o arremessei pra fora do mar. E foi assim que venci. Vencemos. Os golfinhos deram saltos de alegria e partiram pra enterrar os que haviam falecido ali. Não os vi mais.
Fiquei mais um tempo na missão e nenhum tubarão se meteu a besta comigo. Depois de um tempo parti. Aquilo não era pra mim.
Claro que sinto saudade. Faz parte. Não sei se a cidade existe ainda. Não sei mais dos manos que ficaram lá embaixo comigo. Não sei de nada. Gostaria até de saber, pois era um troço interessante. Se alguém souber de algo, por favor. E quando me encontrarem, se quiserem prova, peçam pra ver minhas mãos.
terça-feira, março 16, 2010
GHOSTBUSTERS
Acordei com o mundo girando. Óbvio. Foi um sonho que tive. E o sol que não teve as manhas nem de bater na porta, adentrou o quarto logo cedo tostando todos os meus miolos. Sai caminhando confuso pelo quarteirão, quando anoiteceu, procurando alguma maneira de diluir o efeito da angústia que insiste em se hospedar no meu peito como um viajante solitário. Sopro minha gaita nas caminhadas e toco qualquer nota, que se transforma numa bela canção de ninar. Boi da cara preta? Não. Eu não sou mais criança, mas tenho medo de careta, até hoje.
Percebo que sou vigiado de dentro dos apartamentos dos prédios da Teodoro que piscam suas luzes como árvores de natal. Tenho evitado fazer o caminho de volta pra casa. Até tenho me perdido de vez em quando. Tudo isso pra ver a lua aparecer em algum continente.
Ando querendo esquecer como faço pra chorar às vezes porque tem uma forte chuva fugidia de verão que não vai embora nem a pau. O temporal estilhaçou o vitrô da cozinha e abriu um puta talho na minha testa. Novamente não senti nada, só percebi quando vi o chão manchado. Dói mesmo bem aqui, conseguem ver? Não deixei o cardiologista dar nenhum ponto na evidente buceta na minha testa. Alguém tem o telefone dos Ghostbusters? É assim mesmo que se escreve essa porra?
domingo, março 14, 2010
Espera
No fundo você espera que o telefone toque, que batam à sua porta, ou apertem a sua campanhia. No fundo a gente sempre espera alguém, inventa coisas e cria histórias. E quando olhamos pela janela e não encontramos nada... no outro dia, ficamos com medo de abri-la novamente, porque entra um vento gelado carregado de lastimosas lembranças e o inverno chega com seu forte clima nostálgico. E lá no fundo, bem no fundo a gente fica torcendo por um boa noite dela, pra depois nos deitarmos numa cama fria sob quentes cobertores e esperar que o sono chegue logo com os sonhos. Talvez a única esperança. Mas no fundo queríamos estar tomando chocolate quente na frente de uma boa fogueira, com a cabeça no colo de nossas mães, ouvindo teus contos enquanto procuramos um final para os nossos. E todos os dias a gente corre olhar debaixo da porta esperando chegar alguma carta. Até mesmo uma carta vazia, só o envelope mesmo, com o nosso endereço escrito com letras de mão. E no fundo, no fundo... (um breve silêncio)... são tantas coisas que prefiro mesmo me calar... até o dia em que a vida realmente... (deixa pra lá, apertem o reset e tudo se inicia do zero). Eu não sei, mas no fundo, no fundo... acho que gostaria de saber... merda nenhuma.
Dramaturgia
Um dos maiores dramaturgos do país e também meu brother vai dar uma oficina lá no Célia Helena. Pra quem curte, só aconselho não vacilar. Só não vou por causa do trampo. O flyer tem tudo.
terça-feira, março 09, 2010
quinta-feira, março 04, 2010
CINCO
Deitado. Sem muita força, ele apertou a mão dela, como nunca tinha feito antes. Como se fosse a última vez, como se tivesse pedindo socorro, ou perdão pelo monte de merda que fez durante uma vida toda. Trinta anos, pelo menos. Tava inconsciente. Ela me olhou pelo vidro que nos separava e sem entender muita coisa, ou sem saber o que fazer, retribuiu aquele gesto carinhoso e deixou uma lágrima molhar teu peito. O mesmo peito onde já havia repousado a cabeça, quando ainda era um bebê e nem lembrava mais. Ele confuso, meio desacordado, não sabia o que tava acontecendo, nem onde estava e muito menos o que tava fazendo ali, mas não tinha dúvida de quem era ela. Isso a aliviava. Devia estar feliz por ela estar ali com ele naquele momento, mas não sabia disto, talvez. De alguma forma isso lhe dava alguma segurança. A segurança que ele nunca passou a ela. Podia ter sido a última chance de fazerem aquilo. Isso devia estar passando pela cabeça deles. E depois de tantos anos, se redimiu. Talvez ele nunca tivesse dito que a ama e nem ela a ele, mas aquele pequeno ato compreendia todos esses anos sem essa palavra. Foi talvez a cena mais bonita e sincera que já vi, pois sei exatamente de toda a história. Do outro lado do vidro eu me segurei pra não deixar lágrimas desamparadas.
quarta-feira, março 03, 2010
QUATRO
E um dia, estamos felizes comemorando e no outro, se dermos muita sorte estaremos deitado numa maca no corredor de algum velho hospital, esperando pela chance de sobreviver. E se a sorte não estiver de bem com a gente, talvez essa maca vire só história. E daí pode ser tarde pro último abraço, ou por aquela palavra entalada esperando a hora exata de sair.
terça-feira, março 02, 2010
segunda-feira, março 01, 2010
DOIS
Sempre lembro do Paulo Marcelo. Ele foi como um irmão. A última vez que nos vimos, guardo a lembrança do sorriso malandro, pedindo pra eu ir visitá-lo com mais freqüência. Ele morava em Limeira e eu já estava aqui em SP. Eu disse que voltaria logo, apesar da vida corrida. Um pouco mais de um ano depois, no meio da madrugada, recebo uma ligação de que ele tinha acabado de morrer afogado. Era Páscoa. E é só aquele último sorriso que guardo.
Na foto ele é o que se destaca. Em 1990. Eu tô lá atrás de bermuda vermelha.