quinta-feira, março 04, 2010

CINCO

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Deitado. Sem muita força, ele apertou a mão dela, como nunca tinha feito antes. Como se fosse a última vez, como se tivesse pedindo socorro, ou perdão pelo monte de merda que fez durante uma vida toda. Trinta anos, pelo menos. Tava inconsciente. Ela me olhou pelo vidro que nos separava e sem entender muita coisa, ou sem saber o que fazer, retribuiu aquele gesto carinhoso e deixou uma lágrima molhar teu peito. O mesmo peito onde já havia repousado a cabeça, quando ainda era um bebê e nem lembrava mais. Ele confuso, meio desacordado, não sabia o que tava acontecendo, nem onde estava e muito menos o que tava fazendo ali, mas não tinha dúvida de quem era ela. Isso a aliviava. Devia estar feliz por ela estar ali com ele naquele momento, mas não sabia disto, talvez. De alguma forma isso lhe dava alguma segurança. A segurança que ele nunca passou a ela. Podia ter sido a última chance de fazerem aquilo. Isso devia estar passando pela cabeça deles. E depois de tantos anos, se redimiu. Talvez ele nunca tivesse dito que a ama e nem ela a ele, mas aquele pequeno ato compreendia todos esses anos sem essa palavra. Foi talvez a cena mais bonita e sincera que já vi, pois sei exatamente de toda a história. Do outro lado do vidro eu me segurei pra não deixar lágrimas desamparadas.

2 comentários:

camilo disse...

Pankada, seus textos recebem numeros como título. Todos até agora masculinos, um, três, cinco. Bem, como sou seu leitor, vou lendo e entendo a minha maneira o texto que põe em minha cabeça, texto muito próprio e de um estilo forte e determinado. Parabéns e é assim a vida, tem de se registrar; ora haverá em que este texto será algo que passou, mas o texto permanece incólume a outros corações e mentes. Um abraço.

Leda Pacheco disse...

não vou filosofar, nem ficar dando a minha opinião sobre os textos. vou me reservar apenas o direito de dizer que adorei as palavras jogadas por aqui. parabéns!