sexta-feira, março 19, 2010

MISSÃO SECRETA

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“Tenho esse texto guardado há muito tempo e só agora, como não tenho nada a perder mesmo, resolvi publicá-lo.”

Eu fui mandado uma vez pra uma missão no fundo do mar. Foi louco. Até onde sei, esta tentativa foi feita só uma vez e não sei se por sorte ou azar eu fui um dos cobaias. Nunca comentei com ninguém, mas passei 3 anos servindo na marinha. Tinha que ser segredo de estado, sigilo absoluto, mas a esta altura do campeonato to cagando. Prendam-me se quiserem.

Há algum tempo atrás fiquei sabendo do projeto de uma cidade submarina. Todo mundo achou surreal e absurdo. Só alguns servidores da Marinha sabiam disto. Nunca foi divulgado em lugar nenhum. Lá todo mundo ficou instigado com o negócio, mas por parecer uma idéia um pouco fantástica, poucos acreditaram que poderia dar certo e como sempre acho que nunca tenho nada a perder, me inscrevi pra ver no que dava. Os inscritos iam ter que passar por um monte de exames, preparação, provas etc e nesta época estava tendo um dos maiores concursos para promoção a major da marinha e quem estivesse neste projeto não poderia se dedicar ao concurso. Tive que optar. Deixei pra trás um salário absurdo pra me aventurar. Mais uma vez.

Poucos se inscreveram no projeto e depois de muito sofrimento e tudo mais, 5 sargentos foram escolhidos para viver na cidade submarina durante 3 meses, no mínimo, sem sair de lá. Claro, já estávamos bem preparados, mas na prática, com certeza, como sempre seria outra história. Risco de afogamento era o menor, pois tínhamos todos os equipamentos necessários para não ocorrer isto.

A pequena cidade foi construída dentro de uma caverna submersa, no oceano Pacífico há quase 3 mil pés de profundidade, praticamente no meio dos dois continentes. Foram anos. Eles conseguiram bloquear uma das saídas da caverna com uma redoma de vidro e passaram 15 anos tentando tirar toda água de dentro da redoma e depois construíram um pequeno prédio e algumas casas.

Eu sei que tudo isso foi feito por máquinas e controlado por computadores aqui de fora. O serviço humano era só deixar o material de construção lá embaixo.

Não sei descrever exatamente todo o processo de engenharia. Só sei que ficou muito bom. A idéia era habitar aquilo depois dos testes. Tinha de tudo. Tudo o que imaginarem. Sensacional. Como um pequeno bairro de São Paulo, ou melhor, uns quatro quarteirões como os daqui de onde moro. Aqui, por exemplo, num raio inferior a 100 m, tenho supermercado, drogarias, mc Donald´s, uma infinidade de restaurantes, botecos, academia, todos os bancos possíveis, posto de gasolina, conveniência, casas bahia, marabras, americanas etc, onde costumo torrar toda a minha grana comprando DVD´s.

Voltando. De início foi até curioso e por isso agüentamos 20 dias sem reclamar, mas depois o tédio começou a tomar conta do nosso animo. Não tinha muito o que fazer e estávamos enjoados um do outro também, então cada um começou a se virar com pôde pra fazer o tempo passar.

Como sempre gostei da vida oceânica, comecei a pesquisar mais sobre, aproveitando já estar lá e em pouco tempo eu tava dominando tudo.

Vivíamos rodeados de golfinhos. E o mais louco. Depois de um tempo eu já conseguia nadar sem equipamento nenhum. Percebi que fui adquirindo uns dotes aquáticos. Um processo de osmose. Tipo o Aquamen. Fiquei bem amigo de uns golfinhos e acabei adotando vários de estimação. São extremamente dóceis e gostam muito dos humanos. Fiz vários amigos debaixo da água. Dos mais variados tipos de peixes, algumas arraias, tartarugas etc.

Nadava ali por baixo sob a lua e sob o sol, não tinha nem medo de me perder. Só usava equipamentos quando sabia que ia ficar mais de 10 horas fora da caverna.

Bom, quis explicar tudo isto, pra contar que uma das maiores aventuras e a mais perigosa da minha vida passei nesta época. Carrego traumas e cicatrizes até hoje. Sai de madrugada com uns golfinhos. Havia um lugar que ainda não havia explorado. Nada demais. Voltamos já com o sol ardendo e no meio do caminho um tubarão martelo de mais ou menos 3, 50 m veio em nossa direção. Muito grande. Não da pra explicar.

Um dos golfinhos entrou na frente pra tentar me proteger, mas o tubarão era muito mais forte e acabou assassinando-o. Muito sangue e quase não se via um palmo a frente. Os outros golfinhos rapidamente foram tentar ajudar, mas foram mortos. O tubarão enlouquecido e ensangüentado veio na minha direção. Pensei que estaria ferrado. Não tinha muito o que fazer a não ser rezar e tentar reagir. Do jeito que ele veio eu me esquivei para direita, dando lhe um golpe clássico de caratê, seguido de um “ia”, deixando-o já quase sem todos os dentes. Só assim me senti um pouco mais seguro. Ele ficou me olhando, não sabia se atacava ou não. Como eu tava me sentindo um pouco mais confiante, resolvei atacar. Sempre aprendi assim. Atacar pra sair na vantagem.

Na seqüência dei um mortal triplo, seguido de um giro carpado. Ops! Calma lá. Não se espantem. Na água que bem mais fácil dar esses saltos. Não quero passar por mentiroso. Bom, só sei que cai por cima aplicando um mata-leão (tubarão). Vi os olhos deles se esbugalharem. Ele tentou rodopiar pra todos os lados, se debatendo, mas eu agarrei-o com tanta força, pois sabia que se ele me jogasse eu estaria morto. Foi muito tempo ali. Sorte que uns dois golfinhos sobreviventes perceberam rápido que eu não ia dar conta sozinho e começaram a ajudar-me. Começaram a fazer aquele barulho ensurdecedor deles e vários apareceram do nada. Foram pra cima do tubarão batendo forte no seu estômago. Foram tantas cacetadas que conseguimos acalmá-lo antes do previsto. O último deu uma porrada muito forte na cabeça e ele ficou meio grogue. Eu segurei pelo rabo, cauda, sei lá, e girei, girei, girei, com tanta força que o arremessei pra fora do mar. E foi assim que venci. Vencemos. Os golfinhos deram saltos de alegria e partiram pra enterrar os que haviam falecido ali. Não os vi mais.

Fiquei mais um tempo na missão e nenhum tubarão se meteu a besta comigo. Depois de um tempo parti. Aquilo não era pra mim.

Claro que sinto saudade. Faz parte. Não sei se a cidade existe ainda. Não sei mais dos manos que ficaram lá embaixo comigo. Não sei de nada. Gostaria até de saber, pois era um troço interessante. Se alguém souber de algo, por favor. E quando me encontrarem, se quiserem prova, peçam pra ver minhas mãos.

Um comentário:

camilo irineu quartarollo disse...

Este texto vai para concurso, né? Excelente, aquamen! Pancada debaixo da água dói menos. Um abraço.