sexta-feira, junho 25, 2010

SOBRE HIPÓTESES

hipóteses 3

CRÍTICA DA FOLHA

Grupo enfrenta tabus com inventividade
Em novo espetáculo, os Satyros abordam a sexualidade com elenco que inclui transexuais e atores amadores

LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA
Um teatro para além do teatro, expandido aos nervos pulsantes da cidade. É com esse desejo ambicioso que os Satyros encenam "Hipóteses para o Amor e a Verdade".
Se a encenação não chega a realizá-lo, areja as referências e redefine os vetores do projeto artístico do grupo.
No ano em que celebram uma década na praça Roosevelt, seus criadores, Ivam Cabral e Rodolfo García Vásquez, dão voz aos seus habitantes mais estigmatizados e partem de entrevistas feitas com travestis e prostitutas para investigar as relações afetivas e eróticas.
É um terreno difícil de trilhar, pois minado de clichês, mas que eles percorrem costurando uma dramaturgia cênica inventiva.
O denominador comum das várias personagens que se apresentam é a solidão.
Nesse sentido, é natural que a profusa variedade de relacionamentos hoje praticados na internet e por meios virtuais sirva como pano de fundo para as histórias que vão se desenrolando fragmentariamente.
HISTÓRIAS REAIS

O mais interessante na encenação, contudo, não são as tentativas de provocar imprevistos em um jogo aberto com os telefones celulares dos espectadores.
Mobiliza, sim, a narração de histórias reais, reverberadas pela atuação de um grupo de atores e não atores.
De fato, três dos oito integrantes do elenco são transexuais com experiências distintas com o teatro e um deles, Leo Moreira, traz sua própria história, aproximando o espetáculo da situação da performance em que a autenticidade do vivido aparece sem mediação, como um "ready made" entregue à apreciação do público.
A contra face desse caráter documentário revela-se na interpretação inspirada do ator Tiago Leal, que encarna o intrigante depoimento de um homem apaziguado com sua predileção por travestis.
Esse tema tabu no universo masculino é esmiuçado com base em uma fala colhida nas ruas, mas vivificada na cena.
Também se destaca a personagem da prostituta, criada pela não atriz Luiza Gottschalk, cuja experiência como apresentadora de TV de programas adolescentes valoriza seu desempenho.
Claramente os Satyros, que cravaram sua marca com a pena do Marquês de Sade, ampliam agora a discussão sobre a sexualidade e as relações humanas nos tempos que correm.
Talvez as intenções estejam consumadas mais nos discursos do que na cena.
Porém a liberdade com que o grupo enfrenta o desafio, despreocupados de qualquer convenção ou fórmula pronta, acaba confirmando se tratar de uma obra vital e honesta, que merece atenção e reconhecimento.
HIPÓTESES PARA O AMOR E A VERDADE

QUANDO sex. a dom., às 21h30; por tempo indeterminado
ONDE Espaço dos Satyros 1 (pça. Roosevelt, 214, Consolação, tel. 0/xx/11/2358-6345)
QUANTO ???
CLASSIFICAÇÃO 18 anos
AVALIAÇÃO bom

Um comentário:

COLETIVO ESTALO disse...

Vou assistir esta semana!!!

Kaka