Eu vivo com uma constante inquietação sobre a questão do tempo. Não acredito muito nele, mas apenas o ato de não acreditar já entrega que ele existe, porque ninguém se incomoda com o que não sabe que não existe. Não é?
Obviamente que ele existe, mas não da maneira que o entendemos, da maneira como ele nos é apresentado. O tempo é interno e não externo.
Defendo essa tese na verdade, pra me convencer cada vez mais que só existe o agora, mas o agora também não deve existir, pois a partir do momento que digo “agora” ele já se foi, passou. Enfim. É só pra eu aproveitar mais cada instante da vida. O que chamamos de presente. Porque o amanhã é muito incerto. Na verdade ele nem pode ser incerto, porque não existe mesmo. Será?
Exatamente por isso também não acredito em previsões climáticas, videntes, cartomantes, tarólogos, tiozinhos que jogam búzios e por ai vai.
O que pratico é abrir os olhos pela manhã e ver no que vai dar.
Postei vários textos sobre isto este ano. Sobre o pai da garota que quase se foi vítima de um AVC sem o último aperto de mão da filha. O nosso amigo Cesana que também teve um AVC, mas não agüentou a barra e foi-se muito jovem ainda. O Marião que apertou minha mão sempre muito generoso à 1h da madruga e às 6h levou 4 tiros e quase se foi também. E mais outras histórias de pessoas mais distantes que presenciei e ouvi.
O agora, pelo menos enquanto você lê este texto é a sua única e talvez última chance de perdoar, amar, sorrir, ligar pra alguém de quem gosta muito, visitar uma pessoa que há muito tempo não tem notícias, presentear, abraçar etc. Meio prosaico tudo isto, eu sei, mas uma hora, a gente perde o parâmetro mesmo, não tem jeito. Apesar de prosaico, é real.
Bom, escrevo tudo isto porque acabei de ler um texto da prima de uma amiga por quem tenho muito carinho, que faleceu ontem 22.11.2010. Não a conhecia pessoalmente, mas sabia um pouco da sua história. Ela tinha uma doença rara e exatamente por isso, não conheciam a cura, mas ela seguia relativamente bem e ninguém esperava que isso fosse acontecer. Na verdade pelo texto abaixo, percebe-se que de alguma forma ela previa isso.
Fomos pegos de surpresa mais uma vez. Já é quase normal. Não vou falar mais nada. Leiam!
Juventude e Hipertensão Pulmonar
Você toma um milhão de pílulas por dia e tem que lidar com uma série de limitações.
Viver com uma doença rara é difícil. Lutar pela sua vida quando se é jovem, quando sua maior preocupação deveria ser o que vestir para sair no fim-de-semana. Todos os medicamentos do mundo somente lutam metade da batalha – a metade fácil. Então, como você lida com tudo isso e ainda assim se sente normal?
“Redefine a sua idéia de normal”
Sinta o que você precisa sentir.
Toda emoção é legitima. Você pode ter bons dias e dias ruins, ataques de ira chorar, seguir por caminhos confusos e nebulosos que você não sabe onde dará. Segurar tudo isso não ajuda ninguém.
Permita-se lutar pelo estilo de vida que você perdeu. Você tem que ou nunca mais poderá abraçar a vida que você teve com suas mãos. Seja paciente com você mesmo até que descubra o novo você.
Viva o momento
Aqueles que o coração tem que lutar mais pra bater amam mais, dão mais risada e vivem como se não tivessem nada a perder. Isso levará tempo, mas esse dia chegará. Você não pode voltar atrás e mudar o passado. O futuro é incerto, então os “e se” sem fim somente não permitiram que você viva agora, fazendo o que você pode no tempo que você tem.
Faça uma lista de tudo o que você queira fazer nesta vida.
Qualquer coisa está valendo. Comece com as idéias e depois as torne realidade. Concentre-se em todos os detalhes, por exemplo: Uma viagem (os custos, oxigênio). Faça a sua ambição se adequar a você, mas não desista.
Não deixe o orgulho se intervir no seu caminho.
Pegue o elevador. Lute pelas vagas de deficientes. Compre bonés engraçados para cobrir sua boca no inverno. Use caixas de pílulas não-convencionais (como as do mini M&MS). Decore sua bomba ou a capa do seu oxigênio. Desenhe o seu próprio bracelete de alerta médico.
Pegue tudo que faz com que você seja diferente e transforme em algo único. É possível amar o novo você.
By Fer Marques - 19/11/2010
Um comentário:
Bom Pankada, que foto, heim. Você subiu aos arcanos para tirá-la? São os olhos de um artista que por vezes se reveste de poder onisciente. Um abraço e são 21:14 de 25/11/10.
Camilo
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