quarta-feira, maio 20, 2009

O PORTEIRO ZÉ E SUAS PÉROLAS NOTURNAS

Quando me mudei pra este prédio em Pinheiros, fiquei bem amigo do porteiro da noite, o Zé. As vezes ficava horas e horas trocando idéias com ele. Estava desempregado e não tinha hora pra acordar, então ficava lá. Hoje em dia não da mais, mas na medida do possível, sempre fico pra bater um papo rápido. Ele gosta pra caramba de televisão, principalmente essas séries de violência. Tem uma que passa toda segunda na record. Nunca perdeu nenhum capítulo. Ele fica atento esperando começar. Gosta pra caramba também de Prison Break. Se amarra mesmo. É raro não vê-lo assistindo. Pra atravessar a madrugada fria sozinho, tem que ter alguma distração mesmo. Se não o cara endoidece. 8 horas no mais absoluto silêncio é punk. Ele gostava de ler jornal, mas o sindíco o proibiu. Se ele quisesse isso (silêncio), teria escolhido ir pra um mosteiro, sei lá. Descobri um tempo atrás que ele foi baterista de várias bandas e até tocou com uns nomes importantes da época dele. Veio do nordeste, como a maioria dos outros porteiros, não conhece muita coisa ainda não. Mora numa vila simples na zona Sul. Deve ser uns 4 anos mais velho do que eu. Largou a vida de músico pra poder ficar mais tempo com a mulher e o filho. Há quase 15 anos trabalha de porteiro. Hoje quando cheguei entrei no prédio notei que a televisão estava desligada e ele bem quieto no canto de braços cruzado. Perguntei porque ele estava quieto. Ele disse que não tinha nada na televisão. Aquele horário era ruim. Tava passando Jô Soares e ele não gosta. Acha muito chato. Finalizou dizendo:

“Jô Soares só é legal quando está de férias, porque dai passa um monte de séries boas no horário dele.”

Esse sabe das coisas.

Um comentário:

Camilo I. Quartarollo disse...

Ai mano véio. Está vendo, ninguém cria personagens, eles estão aí na sombra da noite, ou somos nós as personagens. Ele gosta de filme de violencia e acabou, gosta porque gosta e pronto. Vê as series dele e pronto. Eu adoro filme velho, gordo e o magro e coisa assim. Jornada nas estrelas, viagem ao fundo do mar, zorro e refaço em minha mente. É um tipo de loucura, mas dá prazer e não faz mal a saúde (saude não sei se tem acento, mas sempre uso o assento).
Amanhã eu posto outra crônica lá, que já foi para o jornal, sobre o ciúme - chama-se O marido. Calma, não chega nem aos pés de Nelson Rodrigues. As de família vou soltando aos poucos no jornal e no Blog, vou entreverando em assuntos mais sérios e divertidos. Pankada, um abraço. Gostei desse texto seu, como todos são reais e grande dose de um olhar profundo que você tem das coisas e das pessoas,inda que não faça o genêro filosófico.