Todo mês compro a revista Graciemag. E como toda revista tem a seção de cartas. Esta última veio uma bem interessante. Tem um pouco a ver com o meu último texto publicado aqui e com a história que presenciei dia desses num treino que conto logo abaixo da carta.
JIU-JITSU MANTÉM VOCÊ JOVEM
Sou assinante da revista e treino na Lotus Club. Fui em grupo até o Pan 2010. Um de nossos atletas, Rick Geist, lutou o sênior 2 (para atletas acima de 50 anos), no peso e no absoluto.
Um ano atrás, “Big” Rick precisou fazer uma cirurgia no cérebro. Os médicos haviam encontrado um tumor quase do tamanho de uma bola de tênis. A situação foi assustadora, a ponto de o cirurgião chorar ao ver que Rick, após a operação, era capaz de mexer os dedos dos pés e das mãos. Assim que teve alta, Rick voltou à academia, mas não foi só. Ele treinou como um monstro, inscreveu-se no Pan e conquistou DUAS medalhas de ouro! No pódio, ele ganhou a faixa marrom do treinador James Foster, e então puxou da mochila o kimono em que todos da academia haviam assinado e dado a ele, enquanto estava no hospital: “Essa é para a equipe, eu não teria conseguido sem eles.” E encerrou com um grito: “Jiu-jitsu mantém você jovem!”
Sean Flaherty
E a história que tive o privilégio de presenciar foi esta:
Um garoto sentado um pouco distante numa cadeira com os olhos brilhando e um singelo sorriso no rosto, assistia atentamente ao nosso treino. Convidamos-o pra se juntar a nós. Timidamente se levantou, se aproximou e ficou nos olhando sem dizer nada. Mais uma vez o convidamos a tirar o tênis e treinar com a gente. Os olhos se encheram de lágrimas. Estranhamos. Depois de um pequeno silêncio pra tentar engolir o choro, ele disse que queria muito, pois sempre teve vontade de treinar jiu-jitsu, mas neste momento, não ia poder porque tinha um corte na cabeça. Não entendemos.
Ai ele explicou que fez uma cirurgia na cabeça e ficou um buraco no crânio e um corte que não sabe se um dia vai cicatrizar. Caralho! Disse que teve um tumor liquido e soube em cima da hora. Chegou no hospital com 1% de chance de sobreviver, passou por várias cirurgias e agora tem esse buraco no crânio e mais uma válvula que ficará a vida toda jogando o líquido pra fora. Ele nos mostrou a válvula. Sinistra.
Por isso não pode treinar, porque não pode bater a cabeça. Garantimos que ali ele não correria este risco e que cuidaríamos pra que ele não sofresse nenhum tipo de impacto e que iria treinar somente as técnicas. Seus olhos se encheram de lágrimas novamente.
Entusiasmado disse que falaria com o médico o quanto antes e voltaria pra lá, pra recomeçar uma vida normal.
Dessa vez foram nossos olhos que ficaram molhados. Ficamos um tempo em silêncio sem saber o que dizer, esperando as lágrimas sumirem. Talvez pela coragem, pela vontade de continuar vivendo, do cara que esteve cara a cara com a morte. Pelo simples fato de estar frente a frente com uma pessoa que parecia muito feliz, por ter sobrevivido, enquanto todos achavam que ele não teria a mínima chance.
3 comentários:
Quando vejo situações como essa, penso naquelas pessoas que só sabem reclamar e me dá até asia...
É de emocionar ver alguém lutando pela vida e feliz pelo que ainda há de bom.
isso pra mim é uma injeção de animo. precisamos dela todos os dias, não é não? rs
Inspirador!
Postar um comentário