segunda-feira, março 28, 2011

SOBRE A ESTREIA por CAMILO IRINEU

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Sábado rolou a estreia da peça Horário Nobre em Piracicaba. Fiquei surpreso com o resultado, pois era um texto que eu já tinha desistido e não botava muita fé. A rapaziada deu uma vida legal pra ele. Determinados pra cacete, montamos a peça toda em pouco mais de um mês e cinco ensaios comigo. Superou minhas expectativas. Conseguimos o proposto. Fazer os cinquenta minutos sem trilha e sem iluminação. Só os dois atores e nada mais. To feliz.

E o amigo e grande escritor piracicabano a quem admiro muito, Camilo Irineu esteve lá nos prestigiando e escreveu sobre a peça.

Já estou com o seu novo livro no meu monte e ansioso pra lê-lo. “O Seminário.”

Por Camilo

Vi no ponto de cultura Garapa qui em Pira.
O Charles comentou de eu escrever sobre a peça, mas ainda estou um pouco atônito pelo realismo da mesma. É assim que ocorre na miséria humana (Deus queira sejamos poupados). Deve dar um medinho na plateia ou horror, ou aversão, aqueles dois cidadãos neurotizados pela miséria. É para fazer pensar ou não pensar? Pensar, quem se acostuma com isso? Mostra a face sórdida do capitalismo de competição, a TV era a única fantasia, o único elo com o mundo e ela estava desligada, quebrada.


Os diálogos muitos bons e próprios do gênero. Como os conheço e lhes tenho amizade, me preocupou o desgaste em cena, imagine-se na vida real todos os dias, espero que esta não seja a rotina do Pankada. Digo-lhes que, apesar de roupas limpas e engomadas, quem é que não passou por situações parecidas, por brigas em família ou enfrentou coisas do tipo, onde a loucura prevalece, o mundo não é uma redoma, a gente cria isso na cabeça da gente (afinal, a gente precisa sonhar), as personagens, como o Rato, sonhava e projetava seus sonhos numa "dona bonita" que nunca terá fora de sua cabeça e muitos, apesar de classe média, não fazem isso também (num machismo de rodinha de amigos e só aí se realizam, porque na realidade, vem o desgaste de uma vivência cotidiana).

A personagem do Zé é mais conservadora e veio de um meio melhor que o Rato e o autor (Paulo Faria) fez nele suas experiências creio, este sem pai (ou de pai duvidoso), mãe todos têm, mas a imagem de pai, de disciplina, correção que Zé tinha Rato não tem, Rato só está vivo e pode morrer a qualquer hora por qualquer motivo fútil, já Zé zela por uma vida que sonha, nossa vida na cabeça do Zé talvez seja um sonho, eles não têm o mínimo de higiene.

Não é o gênero que me dá prazer, mas do qual não se pode fugir simplesmente. Questiona às visceras e para os que os acham que podem transformar a sociedade com meias dúzia de palavras, um partido político ou alguns livros de autoajuda isso é uma frustração. Não é dadaísta ou niilista sua peça é realista ao extremo, um choque de realidade social.

Parabéns Bruno, Charles e Paulo (pankada).
Camilo

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