sexta-feira, fevereiro 27, 2009

INTO THE WILD

Eu saltei do trem em movimento, um pouco antes de chegar na estação deserta. Tinham fantasmas me vigiando pelo buraco da fechadura. Eu ouvi quando um deles gritou meu nome. Acompanhavam-me, minha velha parceira de guerra, a Mochila e minha noiva de véu e grinalda, Solidão. São de total confiança. Sei que jamais espalharão os segredos que eu escrever por aqui.

Meu destino era o Alasca, mas ainda estava em Rondônia. Não sabíamos qual direção seguir. Estávamos um pouco perdidos. Desde que vi Na Natureza Selvagem, minha vida nunca mais foi a mesma. Deixo o vinil na vitrola rodando noites e noites sem parar, repetindo sempre a mesma canção, com um toco de cigarro esquecido por alguém queimando no cinzeiro ao lado. Etta James, cantarolando com sua voz dançante sempre a mesma dor. Eu decidi chegar no Alasca e morrer por lá. Igual no filme. Daí viro história. Claro, antes enterro minhas companheiras por ali mesmo. Não sou trapaceiro, não as deixarei só.

Vou voar de asa deltas, saltar de paraquedas, por a cabeça pra fora do ônibus. Tudo pra sentir pela última vez o vento soprar na minha cara com intensidades e cores diferentes. E vou beijar a garota dos olhos amendoados para sempre.

Amanhã ao acordar, vou treinar para poder driblar o calor daqui. Tenho medo de chegar com meu corpo quente e acabar com a beleza das montanhas nevadas. Se não fosse INTO THE WILD, nada disto estaria acontecendo. Não quero mais nada, só tomar banho de rio. Talvez fazer amigos pelas minhas andanças de trem. E depois abandoná-los. É assim que tem que ser. Pelo menos foi assim que me ensinaram. Entendam de uma vez por todas: não quero e não consigo contar uma história, apenas deixo fluir o que vem à cabeça. Talvez devesse ter escrito um livro pra deixá-lo guardado junto com os outros mil empoeirados na quina do meu quarto. Até quando continuaremos cometendo os mesmos erros?

Não lembro se disse que antes de partir quero beijar a garota dos olhos amendoados. Daí deixá-la-ei ir na frente só pra ver o desfile do seu charme, exalando todo o seu doce perfume. E amanhã se o vento soprar a favor e o trem partir sem atrasos tenho certeza que chegarei ao meu destino.

3 comentários:

Anônimo disse...

Aí Paulinho, que texto fantastico de bão. Acho que é tar da inteligencia emocional. Muito jóia. Vou pedir para a Luzia dar uma olhada, sei que vai gostar.

Pedro Pellegrino disse...

Curti!

Anônimo disse...

Valeu Pedro e Camilo. Gosto da visita de vocês.